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Revolução 4.0

Tecnologia: como as inovações afetam as relações trabalhistas?

O mundo do trabalho está em transformação. O que antes parecia um cenário distante de ficção científica, agora se desenha como uma realidade iminente, impulsionada pela inteligência artificial (IA) e outras tecnologias disruptivas.

Este panorama coloca líderes empresariais e tomadores de decisões em uma encruzilhada crítica: adaptar-se e liderar a mudança ou assistir passivamente a uma reconfiguração massiva do mercado de trabalho.

Há menos de duas décadas, a expansão dos serviços de motoentrega e aplicativos de transporte já deixava claro como significaria a migração de profissionais de setores tradicionais, como metalúrgicos, bancários e estivadores, para novos nichos.

Hoje, a mesma tecnologia que criou essas oportunidades começa a ameaçá-las. A ascensão dos carros autônomos, por exemplo, levanta uma questão perturbadora: o que acontecerá com taxistas e motoristas de aplicativos quando esses veículos dispensarem a necessidade de um condutor humano?

Nos supermercados, por exemplo, é cada vez mais comum surgirem caixas de autoatendimento. Se agora parte dos operadores está somente orientando os clientes a realizarem o serviço que antes lhes cabiam, em breve, essa mão de obra deverá ser ou remanejada para outras áreas, ou simplesmente dispensada.

Tal movimento não se restringe aos setores de transportes e varejista. A adoção crescente de plataformas de desenvolvimento de softwares low-code e no-code, que permitem a criação de aplicações por usuários sem conhecimento técnico profundo, ainda coloca em risco os empregos de desenvolvedores de software.

Afinal, quando qualquer pessoa pode criar um programa, a demanda por profissionais altamente qualificados nesse campo diminui, potencialmente levando ao desemprego tecnológico.

As mudanças também chegaram a outros segmentos do mercado de trabalho. Instituições de ensino superior estão enfrentando um declínio nas matrículas e, consequentemente, no fechamento de unidades.

O conhecimento que outrora era considerado essencial, como o domínio de softwares de escritório (Word, Excel, PowerPoint), assim como a fluência em outros idiomas, há algum tempo se tornaram obsoletos, posto que a IA é capaz de realizar essas tarefas em questão de segundos.

Professores veem suas aulas gravadas e catalogadas, enquanto o comércio, que depende de uma população economicamente ativa e educada, igualmente sofre as consequências do desemprego em massa.

O impacto nas comunidades locais é ao mesmo tempo visível. Bairros que antes prosperavam graças à presença de universidades e escolas estão experimentando uma decadência gradual. Pequenos negócios que dependiam do fluxo de estudantes e profissionais estão fechando as portas, afetando diretamente a qualidade de vida das pessoas.

O papel dos líderes na Revolução 4.0

A analogia com a revolução industrial é inevitável. Assim como a produção em série transformou sociedades, a revolução tecnológica atual tem o potencial de criar uma classe de desempregados. A diferença é que, enquanto a primeira revolução industrial gerou empregos em fábricas e tornou mais rápida a produção de bens de consumo, a chamada Revolução 4.0 pode eliminar empregos em massa sem criar substitutos imediatos.

A Revolução 4.0 é caracterizada pela integração de tecnologias avançadas que estão transformando a maneira como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos. Destacam-se a inteligência artificial, a Internet das Coisas (IoT), a robótica, a realidade aumentada e virtual, a impressão 3D (manufatura aditiva) e a computação em nuvem.

Esta revolução se distingue pelas inovações tecnológicas que estão possibilitando a automação avançada, a personalização em massa de produtos e a criação de novos modelos de negócios. A Revolução 4.0 está moldando uma sociedade mais conectada e inteligente, onde as fronteiras entre o mundo físico, digital e biológico estão cada vez mais integradas.

Entretanto, este cenário tem seu lado negativo, visto o aumento da disparidade entre a elite tecnológica e a base operacional. Enquanto a cada dia surge um número crescente de milionários do setor de tecnologia, a maioria dos profissionais operacionais, com pouco conhecimento técnico, é literalmente excluída do mercado de trabalho.

Diante deste cenário, CEOs e diretores de empresas têm um papel fundamental na construção do futuro do trabalho. As decisões que tomarem hoje definirão se suas organizações e a sociedade irão prosperar ou sucumbir às pressões da tecnologia.

A responsabilidade vai além de adotar novas ferramentas; é crucial investir em requalificação profissional, promovendo a aprendizagem contínua e a adaptação às novas exigências do mercado.

Sabidamente, líderes visionários devem se comprometer com a educação e a formação de seus funcionários. Programas de requalificação e desenvolvimento contínuo são essenciais para garantir que os profissionais possam se adaptar às novas tecnologias e continuar sendo relevantes.

Da mesma maneira, a criação de parcerias com instituições educacionais para desenvolver currículos alinhados com as necessidades do futuro pode ser uma estratégia eficaz.

Questões éticas

Perante todos os aspectos já abordados, é imperativo fomentar um diálogo aberto sobre as implicações éticas da tecnologia. O desenvolvimento de políticas públicas que protejam os trabalhadores e incentivem a inovação responsável será um diferencial competitivo no longo prazo.

Inevitavelmente, as empresas que estão à frente dessa transição com uma visão humanista e estratégica estarão mais bem posicionadas para enfrentar os desafios que virão pela frente.

Os líderes empresariais também precisam se envolver ativamente na formulação de políticas públicas. A colaboração entre o setor privado e o governo é vital para desenvolver um ambiente regulatório que promova a inovação enquanto protege os trabalhadores.

Políticas que incentivem a criação de novos empregos e a proteção social para aqueles afetados pela automação são essenciais para uma transição equilibrada.

Capital humano

Apesar do avanço tecnológico, o valor do capital humano não pode ser subestimado. A criatividade, a empatia e a capacidade de resolver problemas complexos são atributos que a IA ainda não pode replicar completamente. Empresas que valorizam e investem nessas características humanas sempre estarão em vantagem.

Por outro lado, a era da IA oferece oportunidades sem precedentes para aqueles que estão dispostos a inovar e se adaptar. Empregos que exigem habilidades humanas únicas, como liderança, negociação e criatividade, continuarão a ser vitais. O sucesso nessa transição virá de capacidade de combinar as habilidades humanas com o uso estratégico da tecnologia. Empresas e gestores que encararem a tecnologia não como uma ameaça, mas como uma oportunidade de reinventar-se e criar um futuro mais próspero, certamente vão inspirar e guiar suas equipes para o sucesso.


Juarez Loures
Partner na Unidade de Negócio Solution Flow, da RZ3

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Revolução tecnológica no varejo redefine futuro das relações de consumo

O varejo tem experimentado uma transformação profunda nas últimas décadas, fortemente impulsionada pela evolução tecnológica. Essa mudança não só redefiniu a maneira como os consumidores interagem com as marcas, mas também revolucionou as operações internas dos varejistas.

A adoção de novas tecnologias tem sido fundamental para otimizar a eficiência, melhorar a experiência do cliente e, em última análise, aumentar a competitividade no mercado global.

Uma das principais mudanças no setor de varejo foi a digitalização das operações. A introdução de sistemas de gestão de estoques automatizados, por exemplo, permitiu aos varejistas acompanhar os níveis de inventário em tempo real, reduzindo significativamente os custos associados ao excesso de estoque ou a rupturas de produtos.

Um caso exemplar é o da Amazon, que utiliza algoritmos avançados e robótica em seus centros de distribuição para agilizar o processamento de pedidos e garantir a entrega rápida. Essa eficiência operacional não só melhora a satisfação do cliente, mas também permite que a empresa opere com margens de lucro mais altas.

Além da gestão de estoques, a tecnologia tem transformado a experiência de compra. O advento do comércio eletrônico abriu novas possibilidades para os consumidores, que agora podem adquirir produtos de qualquer lugar, a qualquer hora.

Plataformas como Shopee, Alibaba, Shein e Mercado Livre expandiram o acesso ao varejo para milhões de pessoas, democratizando o consumo e oferecendo uma gama de produtos antes inacessíveis.

Além disso, a integração de tecnologias como a realidade aumentada (AR) e a realidade virtual (VR) nas plataformas de e-commerce está proporcionando aos clientes uma experiência de compra mais imersiva e informada.

A sueca Ikea, por exemplo, utiliza AR em seu aplicativo para permitir que os clientes visualizem como os móveis ficariam em seus próprios espaços antes de realizar a compra, aumentando a confiança e a satisfação do consumidor.

A personalização é outra área em que a tecnologia tem desempenhado um papel crucial. Com o uso de big data e inteligência artificial, os varejistas podem agora oferecer recomendações de produtos personalizadas com base no histórico de compras e no comportamento de navegação dos clientes.

Um exemplo notável é o da Netflix, que, embora não seja uma varejista tradicional, utiliza algoritmos de recomendação para personalizar a experiência do usuário de forma exemplar. No varejo, empresas como a Amazon e a Sephora aplicam técnicas semelhantes para sugerir produtos que os clientes provavelmente gostarão, aumentando as chances de venda e melhorando a experiência do usuário.

A evolução tecnológica também trouxe consigo desafios e considerações éticas. A coleta e o uso de dados pessoais levantam questões sobre privacidade e segurança. Os varejistas devem garantir que os dados dos clientes sejam protegidos contra violações e usados de maneira transparente e ética.

Além disso, a automação e a inteligência artificial têm o potencial de substituir empregos tradicionais no setor de varejo, o que requer uma abordagem equilibrada para assegurar que a adoção tecnológica não resulte em desemprego em massa.

Lojas inteligentes

A integração de tecnologias emergentes no setor de varejo também está abrindo novas frentes de inovação e redefinindo o conceito de loja física. O advento das lojas inteligentes, equipadas com sensores IoT (Internet das Coisas) e câmeras inteligentes, está transformando a maneira como os varejistas gerenciam seus espaços físicos e interagem com os clientes.

Um exemplo notável é a Amazon Go, que utiliza tecnologia de visão computacional, sensores e inteligência artificial para criar uma experiência de compra sem caixas. Os clientes simplesmente pegam os produtos das prateleiras e saem da loja, enquanto o sistema automaticamente registra e cobra os itens comprados.

Este modelo não apenas elimina a necessidade de filas, mas também oferece insights valiosos sobre o comportamento do cliente em tempo real. A Apple já utiliza, em algumas de suas lojas, essa inovação, com o mesmo sucesso.

Além disso, a tecnologia blockchain está começando a ganhar terreno no varejo, especialmente em termos de rastreabilidade e transparência na cadeia de suprimentos. Com o aumento da demanda por produtos éticos e sustentáveis, os consumidores estão cada vez mais interessados em saber a origem dos produtos que compram.

O blockchain oferece uma solução para essa demanda, permitindo o rastreio de cada etapa do processo de produção e distribuição. Gigantes como Walmart e Carrefour já estão experimentando o uso dessa tecnologia para rastrear alimentos frescos, garantindo a qualidade e a segurança dos produtos.

A inteligência artificial (IA) e o machine learning (ML) também estão sendo aplicados para melhorar a tomada de decisões estratégicas no varejo. Desde a previsão de demanda até o planejamento de sortimento, essas tecnologias estão ajudando os varejistas a antecipar tendências de mercado e responder rapidamente às mudanças nas preferências dos consumidores.

A rede de lojas de roupa Zara, por exemplo, utiliza algoritmos de IA para analisar dados de vendas e feedback dos clientes, ajustando rapidamente sua linha de produtos para atender às tendências emergentes. Essa abordagem ágil permite que a empresa mantenha um estoque sempre atualizado e alinhado com as demandas do mercado.

No campo da logística, a automação e a robótica estão revolucionando os centros de distribuição e a entrega de produtos. O uso de veículos autônomos e drones para entregas rápidas está se tornando uma realidade, a exemplo de empresas como a JD.com, na China, que está liderando este caminho. A automação aumenta a eficiência, reduz custos e melhora a precisão nas entregas, proporcionando uma vantagem competitiva significativa.

No início de junho deste ano, o Mercado Livre começou a ampliar, aqui no Brasil, sua frota de robôs autônomos que operam no centro de distribuição em Cajamar, São Paulo, com foco em agilizar a coleta de produtos.

Desenvolvidos com a chinesa Quicktron, os robôs (AMR) transportam estantes até os funcionários, reduzindo o tempo de processamento dos pedidos em 20% e a distância percorrida pelos colaboradores em 70%. Cada máquina tem capacidade para carregar 600 quilos e autonomia de até oito horas, aumentando a eficiência e a capacidade de armazenamento em até 15%.

Excluídos digitais

Na outra ponta desse quebra-cabeça, a inclusão digital aparece como uma questão fundamental para o sucesso deste novo varejo. Embora a tecnologia tenha o potencial de melhorar a experiência de compra para muitos, há uma parte significativa da população que pode ser excluída devido à falta de acesso a dispositivos digitais ou à Internet.

Portanto, os varejistas devem considerar estratégias para garantir que seus serviços sejam acessíveis a todos os segmentos da sociedade, evitando aumentar a desigualdade.

O papel da tecnologia no varejo também se estende à sustentabilidade. Existem soluções que podem ajudar os varejistas a reduzir sua pegada de carbono e promover práticas mais ecológicas.

A otimização das rotas de entrega com o uso de algoritmos de IA certamente reduzirá o consumo de combustível e as emissões de CO2. A análise de dados pode identificar oportunidades para reduzir o desperdício de materiais e melhorar a eficiência energética nas lojas e centros de distribuição.

Marketing e comunicação

A evolução tecnológica no varejo também está influenciando significativamente o marketing e a comunicação com os consumidores. Ferramentas de marketing digital, como publicidade direcionada e campanhas nas redes sociais, permitem que os varejistas alcancem seus públicos-alvo de maneira mais eficaz e personalizada.

Plataformas como Facebook, Instagram e TikTok tornaram-se fundamentais para a criação de campanhas de marketing interativas e envolventes. Marcas como Nike, Adidas, Puma, Boticário e Sephora utilizam influenciadores digitais para promover seus produtos, criando uma conexão mais autêntica e direta com os consumidores.

A análise de dados, ou data analytics, é outro componente crucial nesta transformação. Ao coletar e analisar grandes volumes de dados sobre o comportamento do consumidor, os varejistas podem obter insights valiosos que informam suas estratégias de marketing e vendas.

A rede de lojas norte-americanas Target, por exemplo, usa data analytics para prever as necessidades dos clientes e personalizar suas ofertas. Isso não só aumenta a eficácia das campanhas de marketing, mas também melhora a experiência do cliente, oferecendo produtos e promoções que são verdadeiramente relevantes.

Diversas tecnologias

Experiência de compra unificada e contínua e tendência crescente, o omnichannel integra lojas físicas, virtuais e compradores, sendo uma conexão da tecnologia no varejo, seja por um aplicativo móvel ou em uma loja física.

A rede norte-americana de cafeterias Starbucks é um exemplo notável de sucesso da utilização do omnichannel, com seu app que permite aos clientes encomendar e pagar por seus pedidos antes de chegarem à loja, acumulando pontos de fidelidade que podem ser resgatados em futuras compras. Esta abordagem também incentiva a lealdade à marca.

A tecnologia também está impulsionando inovações no atendimento ao cliente. Chatbots e assistentes virtuais (brand persona), alimentados por inteligência artificial, estão se tornando comuns nos sites de varejo.

Além de ganhar personalidade e milhares de seguidores nas redes sociais, esses assistentes atraem uma gama de clientes fiéis, como Lu (Magalu), Nat (Natura), Uli U. (Ultragaz), Vivi (Vivo), Rê (Rexona) e o Baianinho (Casas Bahia).

Essas “personalidades” fornecem atendimento ao cliente 24/7, respondendo a perguntas frequentes, ajudando na navegação do site e até mesmo processando pedidos. A multinacional sueca de moda H&M, por exemplo, utiliza um chatbot em seu site para auxiliar os clientes a encontrar produtos e resolver problemas, melhorando a eficiência do atendimento e aumentando a satisfação do cliente.

O pacote tecnológico por trás de cada venda também pode ser composto por realidade aumentada (AR) e realidade virtual (VR) estão criando possibilidades para o envolvimento do cliente.

Além do exemplo da Ikea, outras empresas de moda e beleza estão adotando essas tecnologias para permitir que os consumidores experimentem virtualmente roupas e maquiagens.

A Sephora já oferece um recurso de “Virtual Artist” em seu aplicativo, o qual permite testar virtualmente diferentes produtos de maquiagem usando a câmera de smartphones. Esse processo não só torna a experiência de compra mais divertida e interativa, mas também reduz a taxa de devoluções, já que os clientes têm uma melhor ideia de como os produtos vão ficar após a aplicação.

Além disso, a tecnologia está permitindo que os varejistas adotem práticas mais sustentáveis e éticas. A análise de dados pode identificar padrões de desperdício e ineficiências na cadeia de suprimentos, admitindo que as empresas façam ajustes para reduzir seu impacto ambiental.

Startups como a Everlane estão liderando o caminho com o conceito de “transparência radical”, em que cada etapa do processo de produção é detalhadamente compartilhada com os consumidores, desde os custos de fabricação até os impactos ambientais. Essa transparência não só fortalece a confiança do consumidor, mas também pressiona a indústria a adotar práticas mais sustentáveis.

Por fim, a evolução tecnológica está também democratizando o acesso ao varejo. Plataformas de comércio eletrônico estão possibilitando que pequenos empresários e artesãos alcancem um público global, algo que seria impensável há algumas décadas.

Marketplaces como Etsy e Shopify fornecem a infraestrutura necessária para que qualquer pessoa possa abrir sua própria loja online e competir em um mercado global. Isso não só estimula a economia, mas também diversifica as opções disponíveis para os consumidores.

Em conclusão, a tecnologia está remodelando o varejo de maneira profunda e multifacetada, desde a gestão interna até a experiência do consumidor. A inovação tecnológica trouxe ao setor operações mais eficientes e personalizadas, com práticas mais sustentáveis e inclusivas.

No entanto, é essencial que essa transformação seja acompanhada de uma reflexão ética e responsável, garantindo que todos os stakeholders, desde os consumidores até os trabalhadores, se beneficiem das mudanças. Assim, o futuro do varejo será definido, nos próximos anos, pela capacidade de adaptação e inovação dos varejistas, mas também por sua habilidade de criar valor de maneira justa e sustentável. O contrário dessa perspectiva, portanto, não fará qualquer sentido lógico.


Juarez Loures
Partner na Unidade de Negócio Solution Flow, da RZ3

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O avanço da inteligência artificial e da automação de processos na gestão fiscal e tributária

Está em curso uma mudança sistêmica na abordagem das empresas em relação à gestão fiscal e tributária, impulsionada pela ascensão meteórica da inteligência artificial. A velocidade dessas transformações é tão estonteante, que está moldando uma nova mentalidade de “pensar o negócio”.

O que antes era dominado por processos manuais na realização de cálculos complexos, agora está sendo transformado pela automação e análise preditiva, ambas impulsionadas por algoritmos inteligentes. O papel crescente da IA nesse campo já se mostrou, em curto espaço de tempo, crucial para as organizações.

Antes de mergulharmos na função da IA, é fundamental entender os desafios que as companhias enfrentam na gestão fiscal e tributária, dada a evolução constante na dinâmica da criação e atualização das regulamentações, que muitas vezes se tornam mais complexas e abrangentes.

As empresas lidam com uma variedade de impostos, taxas e obrigações fiscais federais, estaduais e municipais, elevando significativamente a carga de trabalho dos departamentos contábeis, fiscais, jurídicos e de RH, desafiando também as estratégias operacionais e de negócios.

Para se ter uma ideia, a complexidade do sistema tributário brasileiro é uma questão central que recebe críticas frequentes. Com 27 leis estaduais apenas para o ICMS, a falta de unificação é evidente.

Desde 1988, foram promulgadas incríveis 363.779 normas tributárias, uma média de mais de 1,88 por hora útil. Esses números do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT) ressaltam o desafio enfrentado pelos contribuintes e destacam a urgência de reformas para simplificar e tornar mais transparente o sistema.

Além disso, erros na conformidade fiscal podem acarretar penalidades substanciais e danos à reputação da empresa. Portanto, a precisão e a harmonia são essenciais, mas alcançá-las é um enorme desafio em meio à crescente complexidade do ambiente regulatório nacional.

Pois é aqui que entra a inteligência artificial, auxiliando os profissionais a desenvolver uma série de ferramentas e técnicas que abrem caminho para as empresas enfrentarem esses desafios de forma eficiente. De muitas maneiras, a IA está transformando a gestão fiscal e tributária.

Igualmente significativa é a automação de processos, com programas e rotinas repetitivas e cenários previstos. Em outras palavras, a inteligência humana encontrou na tecnologia um caminho para alcançar maior precisão e produtividade no trabalho.

Outra contribuição da tecnologia inclui ajudar na coleta de dados, classificação de transações, no preenchimento de formulários fiscais e em muitas outras metodologias. Ao eliminar essas tarefas manuais, liberam-se tempo e recursos para atividades mais estratégicas.

Escritos pela inteligência humana – e este fato nem sempre é ressaltado quando se pensa em IA –, os algoritmos analisam grandes volumes de dados históricos para identificar padrões e tendências, ajudando as empresas a ponderar e projetar cenários com maior exatidão. Além disso, conseguem detectar anomalias nos dados, indicando possíveis erros ou irregularidades e permitindo a correção de problemas antes que se tornem crises.

Com base em análises avançadas, especialistas podem realizar um trabalho consultivo de revisão fiscal, otimizando a estratégia tributária corporativa e identificando oportunidades para minimizar a carga fiscal dentro dos limites legais. Este procedimento envolve uma série de questões, como identificação de incentivos fiscais, avaliação de estruturas de negócios alternativas e otimização da alocação de recursos.

A tecnologia também tem sido usada para facilitar a conformidade fiscal, por meio de softwares de inteligência de processos, os quais têm a legislação fiscal embarcada, como os sistemas TAX One, TAX Analyser, Workflow e Checkpoint, desenvolvidos pela Thomson Reuters, parceira da RZ3.

Cada sistema possui uma função específica, mas é possível, através do Checkpoint, por exemplo, parametrizar rotinas específicas por cliente, para alertar as empresas sobre possíveis situações de não conformidade. Da mesma maneira, o portfólio Thomson Reuters simplifica processos de auditoria, fornecendo acesso instantâneo a dados e documentação relevantes e dando visibilidade gerencial e operacional para garantir o compliance fiscal.

O crescimento do uso da inteligência artificial e de ferramentas de automação de processos na gestão fiscal e tributária oferece uma série de benefícios tangíveis para as empresas, como a realização de operações de forma mais eficiente, reduzindo custos e liberando recursos para outras iniciativas.

A automação de processos e a inteligência artificial são duas tecnologias distintas, mas relacionadas entre si, que têm o potencial de transformar operações comerciais e industriais.

Portanto, com acesso a análises avançadas e insights preditivos, as empresas conseguem tomar decisões fiscais mais estruturadas e com maior visão estratégica, maximizando seu valor para os acionistas, incluindo a amortização dos riscos de erros e penalidades.

Apesar dos benefícios óbvios, o uso da IA na gestão fiscal e tributária também levanta uma série de desafios e considerações éticas. Por exemplo, enquanto a privacidade dos dados dos contribuintes deve ser protegida, os algoritmos precisam ser transparentes e não discriminatórios.

Além disso, a implementação bem-sucedida da IA requer expertise técnica e investimentos significativos em infraestrutura e treinamento. Portanto, as companhias precisam continuamente se preparar para superar esses desafios e aproveitar ao máximo o potencial da tecnologia na gestão fiscal e tributária.

Modelos de aplicações de IA incluem assistentes virtuais, carros autônomos, sistemas de recomendação em plataformas de streaming e detecção de fraudes em transações financeiras.

A inteligência artificial e a automação de processos estão redefinindo a maneira como as empresas abordam a gestão fiscal e tributária, oferecendo eficiência, precisão e ideias estratégicas sem precedentes. E isso faz uma enorme diferença em um país como o nosso, conhecido mundialmente como dono de uma das mais burocráticas estruturas fiscais. À medida que essas tecnologias continuarem a evoluir, certamente assumirão um papel de destaque no desenvolvimento de um ambiente de negócios cada vez mais dinâmico e juridicamente seguro e menos complicado e dispendioso.


Juarez Loures
Partner na Unidade de Negócio Solution Flow, da RZ3